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Marco Antônio Scheuer de Souza

CABELOS

 

                                                                                                                               Marco Antônio Scheuer de Souza

          Amados leitores, bons olhos!

Ah, sim, a mesa das professorinhas… Onde? No já conhecido e fantástico Caffè Bric-à-Brac, localizado em ponto nobre da nossa utópica Cittadella Colturale. Elas? Ei-las: Mirtes, professora de literatura; Mary, de piano; Maria, de Educação Física; e, Malvina, de Moda. Lindas, charmosas, simpáticas e inteligentes. Em sendo assim, vamos desfrutar de seus diálogos maravilhosos e instrutivos. Mirtes, havendo retirado um dos livros da Biblioteca do Caffè (Sêneca, Sobre a Brevidade da Vida; escrito lá pelo ano 49 da Era Cristã), aperto libro, à página 55, encontrou e disse para as suas colegas de mesa:

— Meninas! Ouçam esta preciosidade da Roma antiga: Chamas de ociosos os que passam muitas horas nos barbeiros, enquanto é arrancado qualquer pelo que nasceu na noite anterior, falando sobre cada fio de cabelo enquanto a cabeleira é arrumada ou os fios deficientes são reunidos de um lado e outro na testa? Como se irritam, se o barbeiro foi um pouco negligente (…). Como se inflamam se parte de sua cabeleira foi cortada, se algo está fora da ordem, se tudo não cai em cachos idênticos! Quantos prefeririam ver em desordem a república e não a sua cabeleira? (…). Quantos preferem ter o cabelo mais bem penteado a ser mais honesto? Estes que estão sempre ocupados entre o pente e o espelho (…). Nossa! Quem diria que o cotidiano da Roma antiga era assim? Será que hoje, quase dois mil anos depois, nossa elite política e econômica estaria pensando, sentindo e agindo diferente? Será?

— Duvido muito, destacou Mary. Duvideodó. Analisemos o caso de Eick Batista. O homem que, segundo o honestíssimo Lula, era o melhor exemplo de empresário brasileiro durante o seu governo. Diria eu, com ou sem trocadilho, ser ele o exemplo mais bem acabado de empresário pátrio. Pois, bem! O dito cujo usava uma peruca. Uma prótese para a sua deficiência capilar do topo da cabeça. Nas décadas anteriores, em tais circunstâncias, os homens usavam chapéus, das mais diversas modalidades: desde um econômico quipá, até um exagerado sombrero ou uma refinada cartola. Mas, ele preferiu o caminho da nobreza inglesa que, até em suas elevadas Cortes Judiciárias e Câmaras Legislativas, preferia as perucas, as quais uniformizavam as cabeleiras, sem permitir distinções entre carecas e não; uma vez que os chapéus não seriam de bom tom em ambientes cobertos. Quero, com isso, dizer que a preocupação de tal homem de negócios – e de negociatas, quiçá, só para usar um termo mais longo… –, também, lhe subia à cabeça, chegando aos detalhes com os seus cabelos.

— Bem lembrado, Mary. Tocaste bem o tema. Bem conforme a partitura aliás (risos). Para nós – continuou Maria – soou como uma peça de Beethoven. Mas, vou tentar levantar os halteres de uma outra faceta. É. Estou pensando nele. No Renan Calheiros. Senador de vários mandatos e presidências no Senado. Além, é claro, de suas já sabidas preocupações com o vil metal e com a sua exacerbada cupidez, ele tinha e tem outra: seus cabelos. Às vezes, também a falta deles. Pois, o homem não teve a coragem de pegar um avião da FAB para conduzi-lo até uma clínica, com a finalidade de implantar cabelos? Olha com que despesas o contribuinte teve que arcar. Profunda, pública, democrática e republicana preocupação. Como se extrai do texto lido pela Mirtes, a preocupação com a falta de cabelo pode chegar, sim, a ser maior do que com a falta de honestidade. Parece loucura, no entanto, os seres humanos seguem fazendo coisas de séculos e, até, de milênios atrás. O nosso progresso é – ao que se pode perceber – muito mais tecnológico do que moral. Implantamos cabelos onde eles faltam. Contudo, há como implantar honestidade? Alguém já ouviu falar em uma Clínica, uminha só que fosse, onde se façam implantes de honestidade? Pensem numa promoção do tipo: Atenção! Atenção! Implantes de honestidade a cem reais. Mas, atenção! Só até sábado! Não percam! Isso veiculado em rádios, televisões, jornais, panfletos e o escambau. Pensem (risos).

Malvina, ainda rindo, disse: — Coisas da moda, amigas. Entretanto, o que mais me chamou a atenção foi a preocupação daquele deputado federal, que retornou à suplência. Refiro-me ao Rocha Loures. Aquele da mala de quinhentos mil reais, quase de quatrocentos e sessenta e cinco mil e quase de real algum não fossem a filmagem e as circunstâncias. Afinal, dinheiro não tem marca. Só que, no caso, tinha. A Polícia Federal havia marcado as cédulas. Porquanto, não é que essa tal elevada autoridade da nossa república teve a coragem de tentar preservar intactos os seus cabelos por ocasião de sua recepção e estadia no presídio para o qual foi designado? Entendeu, inclusive, que o corte dos seus cabelos seria um ato de crueldade e desumanidade. A desonestidade não tem nada de cruel e nem de desumano, na visão do distinto. O aumento ilegal do patrimônio é joia; o que não é joia é a diminuição da cabeleira. Joia, mesmo, é Sêneca. Atualíssimo, queridas. Atualíssimo.

— Essas coisas de cabeleira, minhas caras, não têm somente a ver com o ideário da Jovem Guarda e nem só com o pensamento hippie, tornou Mirtes. Realmente, nos casos citados, o contato é maior com aquela indagação de Sêneca, antes lida e que releio: Quantos preferem ter o cabelo mais bem penteado a ser mais honesto? Mas, cuidemos de amenidades. Como vai o teu cachorrinho, Mary? Tudo bem com ele?

Amados leitores, bons olhos!

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