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Juliano Sartori

Opinião

É urgente!

Entender as razões pelas quais os pacientes com doenças crônicas, como o câncer, buscam tratamentos alternativos não usuais, não é uma tarefa fácil. Tentarei argumentar e fazer algumas reflexões sobre o tema.

O Câncer é uma doença, que além de enfrentar velhos preconceitos e estigmas, como o de uma doença incurável, que ocasiona sofrimento, que gera incapacidade e que desestrutura as famílias, apresenta peculiaridades no seu tratamento que não se vê em outras patologias. No tratamento do câncer se aplica medicamentos que tem como objetivo destruir as células tumorais de forma direta ou indireta, através de alvos específicos no sistema imunológico. Esta ação descrita de forma simples, se esconde atrás de complexas vias de sinalização biomoleculares no micro-ambiente celular dos indivíduos, e que na essência são diferentes em cada paciente, justamente pela característica nata de sermos seres únicos e semelhantes apenas na espécie.

Este fato pode gerar resultados distintos em pacientes com mesmo diagnóstico e submetidos a protocolos de tratamentos exatamente iguais. Assim, alguns pacientes experimentam o sabor da remissão completa e a cura no câncer, e outros a crueldade do desfecho fatal. Quando pacientes e familiares se deparam com esta situação em que a doença apresenta progressão e as formas terapêuticas convencionais não são efetivas, buscam alternativas, as vezes “milagreiras”. Talvez, nossa cultura latina, não nos permite ver a evolução e o preparo para a morte com outros olhos que não um desfecho trágico.

Após cada resultado frustante de tratamento buscamos algo novo, e muitas drogas e medicamentos aprovados em países pioneiros em pesquisas farmacêuticas e clínicas, estão em falta no nosso país. O custo para importar essas medicações torna-se inviável. É extremamente burocrático e lento aprovação de novos fármacos no Brasil. Pacientes e familiares padecem no caminho da judicialização da saúde, com a busca incessante na justiça por tratamentos de alto custo realizados fora do país e que não estão padronizados aqui. Neste desespero e corrida contra o tempo, para ganhar mais alguns meses ou poucos anos de vida, surgem no cenário, as medicações alternativas. Estas, na maioria das vezes, são medicamentos não regulamentados com efeitos benéficos e tóxicos ainda desconhecidos e com resultados não publicados em revistas científicas.

Outra situação, que pode explicar a busca por formas alternativas de tratamento, seria a dificuldade dos profissionais em relacionar-se com seus pacientes e familiares. A base dessa relação deve estar alicerçada em linguagem clara, segura, madura e de confiança mútua entre as partes. Alguns pacientes e familiares relatam algumas vezes, que encontram profissionais indiferentes a sua doença ou ao desfecho ruim na evolução da mesma. Fato esse verdadeiro e difícil de contra argumentar. Encontrei um trecho escrito pelo colega e autor JJ Camargo, no seu livro “Do que Você Precisa para ser Feliz?”, que pode justificar em parte tais atitudes:
“Por isso não acredite na frieza dos médicos, mesmo que alguns aparentem rigidez absoluta. Todos nós perdemos pedaços mais ou menos dolorosos com essas mortes miseráveis que insistem em atazanar nossa atividade e reiterar a nossa frágil condição de humanos. Muitas vezes a indiferença é apenas uma máscara precária para despistar o quanto sofremos”.

Não restam dúvidas, que o sucesso do tratamento de doenças crônicas como o câncer, independente do desfecho final, está no manuseio adequado das opções técnicas e científicas atuais, na relação humanizada e ética com pacientes e familiares, no respeito a suas crenças, hábitos e espiritualidade. Neste contexto, a busca por formas alternativas espirituais, com certeza só contribui para melhorar as condições psicoemocionais dos pacientes e familiares, que efetivamente confiam nessas estratégias. Evidentemente, mantendo as recomendações médicas indicadas para cada caso.
Neste cenário, de novas drogas e incorporação de novas tecnologias no tratamento do câncer, é urgente, que se possa rever a burocrática legislação para liberação dos novos medicamentos.É urgente, que se desburocratize a formação de novos centros de pesquisas clínicas e farmacológicas. É urgente, que se possa disponibilizar aos pacientes que chegam a linhas finais de tratamento a opção de participar de pesquisas com novas drogas. É urgente, que as decisões sobre tratar ou não os pacientes com determinadas drogas não estejam sob a caneta e decisão judicial. É urgente, que se reestruture a alocação de recursos à saúde oncológica no país.
É claro, respeitando sempre os princípios bioéticos que amparam as pesquisas de novos medicamentos.

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