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Ana Laura Montini Giaretta

Em busca da Colcha de Retalhos: a intolerância religiosa no Brasil

De início, a conversão forçada dos indígenas ao catolicismo, religião oficial dos colonizadores. Com a vinda dos escravos africanos, o preconceito com seus cultos e divindades. Após a sanção da Lei Áurea, a impossibilidade de qualquer manifestação religiosa que diferia da tradicional sem a atração de olhares manchados com um condenatório sentimento de repulsa. Hoje, séculos depois, a discriminação remanescente de todo esse ódio desenfreado.

De frente a uma análise da história da religiosidade no nosso país, depreende-se uma irônica e controversa realidade: um país misto, constituído de culturas detentoras de peculiaridades tão distintas entre si, com a intolerância religiosa permeando cada passo no avanço do tempo.

Ironia? Controvérsia? Sim, e muita! Ao realizarmos uma análise da origem de nosso povo, vemos que, historicamente, temos a identidade moldada na comunhão de todas as crenças que por aqui passaram. O antropólogo Darcy Ribeiro, em sua mais famosa obra, O Povo Brasileiro, já nos define como sendo um “povo de retalhos” por nossa mista e diversificada constituição. E devemos admiti-lo, com todo o orgulho, que, de veras, o somos. Índios de toda a América, africanos, europeus e imigrantes de todo lugar – juntamente com suas respectivas crenças– são os retalhos formadores do que hoje conhecemos como “o brasileiro”.

Apesar de tudo, toda essa pluralidade não se reflete no âmbito da aceitação das diferentes religiões, culminando no cenário de intenso preconceito e discriminação com o qual hoje o brasileiro convive e, não raro, faz parte. Mas, afinal, por que isso ocorre?

Os pretextos para a disseminação da intolerância são muitos: vão desde a antiga ideia de “superioridade” religiosa até ao que é dito dentro dos cultos e celebrações – ou, melhor, da interpretação do ouvinte que nelas se encontram. Estas razões também transpassam pelos valores repassados pelos pais e escolas às crianças.

O fato é que ninguém nasce imbuído de preconceito. Pelo contrário: ele é ensinado e incorporado por meio de processos de socialização primários e secundários. Por conseguinte, é basilar prestarmos atenção aos meios nos quais se faz a transferência do preconceito para as novas gerações.

A interpretação de todos os supracitados motivos que levam à intolerância religiosa no Brasil é crucial para o início de uma mudança nesse conturbado cenário com o qual convivem quaisquer pessoas com uma opção religiosa (ou não) que se desvie da tradicional.

Os insultos, ofensas, tratamentos diferenciados e agressões podem findar-se de uma maneira mais simples do que de princípio se imagina: com a compreensão de que crença alguma é superior a outra. Somente assim é arquitetaremos, como na Estação Sé, do metrô de São Paulo, a nossa própria Colcha de Retalhos, na qual todos os elementos convivem harmonicamente e se encaixam para formar um painel cultural da pluralidade religiosa – e o principal: sem repulsa nem preconceito.

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