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Marcelo Figueiró

A Liga dos Pampas e Natureza Artificial

Jader Corrêa nos presenteia com dois verdadeiros roteiros de cinema em quadrinhos

 Existe uma técnica de cinema que facilita enormemente a vida dos diretores. Estou falando do “Storyboard”. Este apresenta o roteiro com o auxílio da arte sequencial. Nela as cenas podem ser visualizadas através de desenhos, antes de serem capturadas pelas câmeras, para localização dos profissionais de cinema. Nestes dias de muitos blockbusters, seria difícil explicar para alguns o que estão filmando, apenas olhando para uma tela verde. Esta prática salva filmes e certamente carreiras de atores inexperientes. O mais interessante é que não é um método novo. O storyboard já era utilizado pelo francês Georges Melies, considerado o pai do cinema, em seu filme “Viagem à Lua”, de 1902. Se olharmos bem veremos que o nome pomposo nada mais é que a também centenária arte das histórias em quadrinhos. Talvez seja por isto que estas duas formas de narrativas visuais seguidamente se aproximem e troquem seus papéis.

Encontrando cinema nas bancas de revistas

Pois garimpando nas bancas da minha cidade encontrei dois livros que são storyboards completos. O melhor de tudo é que foram feitos por um conterrâneo, amigo e colega de faculdade. Estou falando de Jader Corrêa, que tem mais de vinte anos de trabalho com artes gráficas, cartuns, charges, quadrinhos e obviamente storyboards. Pois hoje vou trocar um pouco nosso bate-papo sobre cinema, pela análise de dois produtosseus, que como já falei, são verdadeiros roteiros ilustrados. Só falta encontrar o diretor para colocá-los nas telas. As obras são às Graphic Novels “Natureza Artificial”(2016) e “A Liga do Pampas”(2017).  

Liga dos Pampas   (5)

Uma obra com inteligência…artificial

“Natureza Artificial” é uma conto de ficção cientifica, desenhado em preto e branco, com uma história que lembra filmes como o Exterminador do Futuro (1984), Matrix (1999) e Eu Robô (2004). Na verdade o roteiro utiliza algumas leis de Isaac Asimov, criador das bases sobre robótica, que inspiraram o filme de Will Smith (Brigth, 2017). Na narrativa de Jader uma nave, de transporte de cargas, cai abruptamente em um pedaço inóspito da Austrália. O piloto humano e seu robô auxiliar, para sobreviver, precisam urgentemente encontrar um lugar com água e comida, onde possam deixar as encomendas para serem entregues a seus verdadeiros donos. Para isto tem de atravessar um vasto deserto, apenas com a  companhia um do outro. A caminhada é recheada de diálogos sobre criador e criatura, urgência e eternidade, inteligência e lógica, fragilidade e força bruta.

A natureza como inimiga

Nesta trajetória enfrentam tanto as intempéries do local, quanto piratas do asfalto, no melhor estilo Mad Max (1979). O grande gancho fica para o final, num questionamento de qual nosso objetivo neste mundo. Para finalizar a revista temos um spin-off elaborado por outro desenhista/escritor, Matias Streb, que já se aventurou em trabalhos para grandes empresas de HQs norte-americanas. A história de Matias utiliza uma fotografia mais escura, que se adapta de uma forma diferente a obra de Jader. Ela mostra, assim como as franquias de cinema, que aquele universo deve ser bem maior do que parece.

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Uma ficção científica pronta

Vale a pena colocar este trabalho num blog sobre cinema pois ele é facílimo de ser transportado para tela grande. Embora seja no futuro, o conto não possui grandes efeitos visuais a serem utilizados. A ambientação no deserto é fácil de ser encontrada, podendo ser feita no nosso Estado mesmo, nas dunas de Balneário Pinhal, por exemplo. O texto, possui uma profundidade acessível e certamente conseguiria atrair um bom número de espectadores ao filme. Enfim, a HQ tem todos ingredientes para migrar para outras mídias.

Liga dos Pampas – Tratamento de cinema

Já o outro conto de Jader é “A Liga dos Pampas: O Entrevero Sinistro”, lançado recentemente para a Convenção Nacional de Quadrinhos, a Comicom Experience, acontecida em São Paulo, em 2017. Esta obra é bem mais elaborada que Natureza Artificial, com um tratamento melhor da capa, com lombada, e cores muito bem trabalhadas em todas as páginas. A história se passa no Rio Grande do Sul dos anos 1894, durante a Revolução Federalista, mas tem inspiração também em clássicos do cinema e dos quadrinhos como “A Liga Extraordinária” (2003), “Vingadores” (2012) e “Liga da Justiça” (2017).

Uma Liga Bagual

Na trama, Jader reúne mitos do folclore e personagens da literatura gaúcha. Tudo para enfrentar um grande mal que se abate sobre o pampa. Quando uma horda de mortos vivos ataca diversas localidades de nosso Estado, se reúne inesperadamente um grupo composto pela misteriosa Teiniaguá, pelo Negrinho do Pastoreio, e pelo Índio Anguera. Além deles compõem a Liga os gaúchos Martin Fierro e Blau Nunes, ambos representantes da combatividade sulista na literatura de José Hernandez e Simões Lopes Neto, respectivamente.

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Lovercraft no Sul

Para acabar com a praga sobrenatural, este grupo inusitado precisa atravessar o pampa encontrando outras figuras mitológicas e resolvendo mistérios. O desfecho da obra traz um grande combate com uma criatura gigantesca, que parece saída dos livros de H.P. Lovercraft,  mas é tão mística e regional quanto os protagonistas. O embate acontece no melhor clima de enfrentamento de chefões nos videogames ou blockbusters do cinemas.

Uma janela para nossa cultura

No cinema esta obra certamente precisaria de um investimento maior dos seus produtores. Com os efeitos visuais certos, não tenho dúvida que teria uma boa aceitação. Seu principal mérito, além da aventura, é que possui o potencial de apresentar personagens importantes de nosso folclore de uma forma divertida para as novas gerações. Certamente é uma porta de acesso a cultura ainda não explorada pela nossa didática escolar, mas que poderá ampliar e muito o conhecimento de jovens ao nosso vasto folclore e literatura. Para adquirir qualquer uma das duas publicações procure nas bancas de revistas. Caso não encontre, encomende com [email protected].

Quase siameses

O Cinema e os quadrinhos certamente tem seus caminhos entrelaçados. Até por isto, quem aprecia a sétima arte se preocupa com a diminuição da quantidade de gibis nas bancas de revistas. Eles são uma das melhores fontes de inspiração para filmes de qualidade. No desenho, ou no storyboard, tudo é possível. Depois de se desenhar e escrever uma ótima ideia, cedo ou tarde, ela acabará sendo utilizada na tela grande. Pode ser com sua tradução exata, ou como adaptação parcial. Por isto quando vemos obras de quadrinhos, ou storyboards,  de qualidade, sendo produzidas tão perto de nós, sentimos alento e orgulho. Agora é esperar e torcer para que algum bom diretor ou produtor de cinema encontre estes verdadeiros roteiros para que possamos saborear estes ótimos storyboards no cinema também. Fica a dica Mirela Kruel, Cristiano Caetano, Carlos Gerbase, Jorge Furtado, Steven Spielberg …. 

 Infelizmente hoje não temos trailers… Ainda…

 Teasers

https://youtu.be/jwXMW43uKKg

https://youtu.be/FcLWq7_w-h0

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