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Maicon André Malacarne

Qual o preço de não dialogar com maturidade sobre política com os jovens e entre jovens?

  1. Política não está, necessariamente, ligada a governos e Partidos Políticos. Quem sabe, esse seja nosso grande entrave na conjuntura brasileira. Política é muito mais. Política é uma atividade humana. Onde há relações, há política: em casa, no trabalho, nos negócios, na Universidade, na Igreja… O problema exatamente reside em dizer que “política não se discute”. Política se discute sim! Desconfio que estamos pagando caro, com sentimentos de ódio e raiva, construindo muros divisórios, por não conversarmos sobre política.
  2. Não gostar de falar sobre política não significa que ela não seja importante. A questão, como dito, é reducionismo. Achar que a política são os partidos que temos é, de fato, desanimador. É sabido que a palavra política, que vem do radical grego, refere-se aos assuntos da cidade (polis) ou, se quiser, do coletivo.
  3. O preço que pegamos por não conversar de política com pessoas de nossas relações é fingir que o assunto não nos toca e, por isso, tem coisa mais importante. Como consequência viramos “analfabetos políticos” com grandes discursos, de maneira especial, no auspicioso mundo virtual com o qual muita gente está conectada. Discursos esses, vazios, sem sentido, mas com cara de grandes sabedorias.
  4. O preço que pagamos por não conversar sobre política na Escola e na Universidade é, de maneira especial, o reducionismo já citado: não compreender no âmbito da formação que a política tem a ver com toda e qualquer atividade humana. Aí se cria uma grande brecha na formação permanente. Espaços de formação precisam se dar conta da necessidade e urgência dessa conversa.
  5. O preço que pagamos por não conversarmos sobre política na Igreja – católica que faço parte, mas também de outras tantas cristãs, ou não, conforme partilho com irmãos da fé – é uma espiritualidade abstrata e desligada da realidade. Nada faz a oração e a espiritualidade ter tanto sentido como a vida e o cotidiano. Negar a dimensão política nas nossas formações e nas nossas conversas é, também, abrir espaço para desligar a vida da fé. A grande contribuição que a religião pode nos dar é uma espiritualidade verdadeira e livre, a qual vamos aprendendo a descobrir cotidianamente. Logicamente, é delicado tratar de temas políticos em espaços como as Igrejas, porém, é necessário recuperar as partilhas, análises de conjuntura, revisão de vida e uma pedagogia aberta que nos faça compreender e amadurecer a fé.
  6. O preço que pagamos por não conversarmos sobre política com os jovens e entre os jovens é vermos crescer, de forma exacerbada, o egocentrismo. Claro, política é a arte da coletividade e vai na contramão. Olhar pro umbigo, voltar-se para si e para seus interesses é, exatamente, o contrário daquilo que uma sociedade com maturidade política quer. Em tempos da beleza da subjetividade, precisamos redescobrir a alteridade, o outro e a outra que são seres sociais e políticos.
  7. O preço é sermos uma juventude com grandes discursos de ódio e que, nesse sentimento, vale até defender “bolsonaros” e seus discursos sanguinários e torturadores. Aliás, os “bolsonaros” são os ícones do egocentrismo e de uma fé voltada para si mesmo. Basta a gente pensar: porque os “bolsonaros”, infelizmente, estão em alta? Porque cresce o discurso que se assemelha em ódio? Os discursos do deputado são o ícone da negação dos direitos coletivos e um grande abraço no umbigo. É exatamente o caminho contrário que o Papa Francisco, amplamente citado por todos, Nelson Mandela, Luther King, Francisco de Assis, Tereza de Jesus e tantas outras tem nos mostrado: a felicidade está no outro, está nas pessoas, está em sair de nós e encontrar o diferente. Ou, caso queira, a felicidade é ser verdadeiramente político!
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