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Ana Laura Montini Giaretta

Quando a hipocrisia bate à porta da evolução

Hipocrisia, substantivo feminino. 1. característica do que é hipócrita; falsidade, dissimulação. 2. ato ou efeito de fingir, de dissimular os verdadeiros sentimentos, intenções; fingimento, falsidade.

Essa é a definição do dicionário para a famigerada hipocrisia, palavra proferida por muitos ao menos uma vez na vida em litígios e discussões. Uma maneira de rebaixar o adversário, e, por vezes, condená-lo por exigir dos outros algo que não pratica.

Apesar de execrável, o ato de cobrar o que não se faz nos rodeia o tempo todo: desde o cidadão que reclama do desastre do país e não move um dedo para melhorar a situação, até às sessões no Congresso Nacional em que ímprobos ladrões julgam uns aos outros pela perpetração de crimes relacionados ao mau uso dos cargos políticos.

Lembra-se daquela vez em que alguém condenou a falta de acessibilidade aos cadeirantes e estacionou o carro por “só cinco minutinhos” na vaga a eles destinada? Da pessoa que repudiou o desvio de dinheiro público noticiado nos jornais e não devolveu o troco errado do mercado? Do indivíduo que fazia alarde pelas doenças transmitidas pelo Aedes aegypti sem sequer ter checado seu próprio quintal? Ou até mesmo do hipócrita falando sobre hipocrisia?

Por onde quer que andemos, encontraremos promessas não feitas, frases proferidas da boca para fora e cobranças dissimuladas ─ dentro das casas de governo, empresas públicas e privadas, escolas e, inclusive, de nossas próprias moradias. É isso mesmo.

Admitir é difícil, todavia, necessário: somos todos, pois, hipócritas. Eu, você e as pessoas que nos rodeiam.Já dizia Nietzsche: “Nada mais hipócrita que a eliminação da hipocrisia”.

A hipocrisia mata, de pouco em pouco. Uma morte lenta, com ar de vitória. De princípio, sentimo-nos superiores, corretos e donos da verdade para, no fim, encontrarmo-nos todos juntos afundados no mesmo poço sem perspectiva de saída…senão com a aceitação e incorporação de novas ideias.

Estranho? Talvez um pouco. Deixe-me explicar.

Quem nunca ouviu uma acusação de hipocrisia aos moldes de “Como assim? Lembro que há alguns anos você mesmo fazia isso!”? Creio que a grande maioria.

A ideia de que somos uma mente estagnada já é obsoleta há tempos. O mundo atualiza-se a cada segundo e, com ele, também se alteram as percepções a respeito de tudo: causos, pessoas, ideias e ideologias. Você não é a mesma pessoa que foi ontem, na semana, no mês, no ano passado. Eu também não. Nem ninguém.

Nesse sentido, somos todos “hipócritas” porque não podemos apagar nosso passado e, felizmente, modificamo-nos e transformamo-nos. Somos eternos errantes em constante mutação ideológica.

Só não é “hipócrita” aquele com a mente fechada a ponto de recusar-se a deixar seu intelecto evoluir.

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