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Maicon André Malacarne

Sobre juventude e espiritualidade

Quando chover, deixar molhar

pra receber o sol quando voltar.

(Marcelo Jeneci)

Dois temas que me são caros: juventude e espiritualidade. Dois temas que se entrelaçam. Duas possibilidades. Nada melhor que iniciar esse caminho de reflexão por esse veículo de comunicação com coisas da minha vida. Primeiro, porque sou jovem. Segundo, porque penso que a dimensão da espiritualidade precisa ser bem vivida e disso depende a felicidade. Também da juventude.

O jovem é uma categoria social. Não pode ser definido com características aleatórias e, mesmo, pela determinação de uma idade. Socialmente se constroem condições para viver esse tempo. Os critérios para definir a juventude sempre são definidos historicamente e culturalmente. Se a faixa etária manifesta desdobramentos físicos e mudanças psicológicas, é, de maneira especial, a cultura local em um determinado tempo histórico que vai apontar características pontuais do sujeito. Tentar definir jovem como “isso” ou “aquilo” sempre será um risco. Aqui, mesmo de maneira rápida, é necessário trazer presente a perspectiva da diversidade. Já se fala bastante, inclusive, em juventude(s). É o tempo do múltiplo. Representações diversas são vividas e mostradas. As diferentes experiências juvenis vividas em lugares distintos constroem formas de ser jovem. Muitas formas. Também quando se olha para a dimensão da espiritualidade.

Espiritualidade tem tudo a ver com “sentido”. Perder o sentido é não encontrar significados. Significado de viver. Significado da família. Significado de ser jovem… Espiritualidade está muito próxima a significado. Isso porque ela nos lança para a dimensão do infinito. Do além. Do transcendente. Porém, ela se realiza e encontra significado na finitude humana. De outra maneira, poderia dizer-se que a espiritualidade é uma dimensão que se constrói olhando para o horizonte, mas com os pés plantados nas questões da vida. Espiritualidade não está separada de questões sociais que pautam o cotidiano. Por isso, para essa dimensão ser bem vivida e dar significado a nossa existência precisa estar conectada com o que nós somos e o que nós queremos ser. O Espírito é um sopro. É vitalidade. A espiritualidade é perceber e potencializar esse significado. Posso viver a espiritualidade em muitos lugares e de diversas formas. Porém, algumas delas podem também ser alienantes e inibidoras da liberdade.

Aproximar juventude e espiritualidade é uma tarefa apaixonante. Claro, é preciso quebrar paradigmas e perceber como os jovens tem buscado viver seu “ser espiritual”. A resposta não está mais na antiga imagem dualista, platônica, de um mundo superior e perfeito e de um outro mundo inferior e imperfeito. A integralidade das coisas está posta. A espiritualidade necessariamente nos lança para a dimensão do transcendente, mas um transcendente que se realiza no comum da vida. Tudo está aqui ao nosso redor. A juventude procura a espiritualidade aqui. Por isso, dá pra dizer, os jovens são muito mais sensíveis a questões sociais e universais. Claro, diferente da conjuntura da organização e da luta por direitos que pautou o papel juvenil de algumas décadas atrás. A sensibilidade é outra. Porém, não pode ser negada. Não tem como dizer que o jovem é indiferente e desorganizado. É só olhar para a diversidade e para os grupos. Isso tem tudo a ver com espiritualidade. Não vertical, mas horizontal. Parece um discurso teórico, que tem pouco a dizer com respeito à vida, mas não é. Encontro muitos jovens desencantados com tudo. Também com a política. Também com as religiões. Diria que o desencanto é uma possibilidade do processo espiritual. Um desencanto que se movimenta para buscar outras formas. Vai virar encanto quando as coisas da vida diária puderem ser vividas com espiritualidade. Não é uma receita. É um caminho. Negar a fé, a espiritualidade, também está nesse processo.

Ah, por fim, não se pode esquecer de dizer que juventude e espiritualidade tem a ver com amizade, com parceria, com risada no bar, com música, com festa, com grupo, com celebração da vida, com livro e formação, com Deus. Coloca-se a necessidade de reconhecer essa espiritualidade juvenil.

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