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Feliciano Tavares Monteiro

Uma vingança quase sem fim

Tchê,

A foto de uma rua, um pouco esburacada, onde encontrastes vereadores me lembrou uma avenida em São Francisco, na Califórnia, juro por Deus.

Nestes dias atuais, de pós eleição saltam aos olhos três coisas:

1- que o colombiano,Juan Manuel, levou o Nobel da Paz e que fomos os primeiros, em teu site, a homenageá-lo- antes mesmo da academia o premiar;

2- nada deteve a sanha da desindustrialização e a cidade de Erechim, antes muito próspera, será duramente atingida economicamente;

3- nem a eleição, ou até mesmo o sábio Papa, irão deter os jovens investigadores – Analistas Simbólicos- dos juizados, Ministério Público e da P.Federal. Pois eles são movidos pela ótica industrial (pensamento de Skinner, e não pela falsa dialética de Bem x Mal…

Alguns partidos, que acreditaram no contrário, pagaram e pagarão caro por crer no que não deviam.

Discípulos de Skiner (*)- ou desagravo d’ outro Senhor da Torre

”… e lhe disseram que eram oficiais do senhor da Torre, de cuja perdição e de cujo fim ele era culpado, e lhe rogaram que se suicidasse como um samurai deve fazê-lo. Em vão propuseram esse gesto decente a seu ânimo servil. Era homem inacessível a honra…“. – BORGES, Jorge Luís- A História Universal da Infâmia.

Todos sabem que a indústria parou de crescer, estancou e começou decrescer, fazendo o desenho inverso ao do perfil de uma banheira e parece que a recuperação de nossos parques industriais ainda precisará de alguns anos. Mas vamos saudar as boas notícias: os 70 anos do SESI, a provável chegada do ensino tecnológico de qualidade – à escola pública convencional da Bahia e todo o empenho de técnicos, professores – egressos de escolas técnicas e centros de pesquisa – para dinamizar o quadro atual. Também é bom lembrarmos que, um honesto investigador científico, esteve aqui na Bahia e cruzando o Brasil, lá pelos idos de 2010, deixou bem claro que urgia prospectar novas modalidades de “indústria/inovação”, pois o nosso modelo estava às vésperas da exaustão. Muitos que receberam o Dr. Mangabeira Unger sentiram sinceridade nas suas colocações. E haverá luz enquanto pessoas como ele, expert em antever as crises se dedicarem a dotar o setor produtivo de remédios curativos, puderem ser ouvidas.

Mas agora a crise foi acrescida de outro elemento: – a divulgação cotidiana de uma corrupção generalizada. E tentando encontrar a origem da “nossa vocação corruptiva” todos se debruçam sobre arquivos e pergaminhos e colocam sob suspeição até as Velhas Repúblicas, Monarcas, Reis lusos. Etc. Alguns repetem para si:- Nós sempre fomos cordiais e honestos e isto deve ter sido um contágio, genético e a ciência tem o dever de identificar as origens e prover meios de debelarmos esta tal de corrupção. O certo é que um estribilho passou a ser único:- a Operação fulano prende beltranos e sicranos… E graças à delação premiada, julgam alguns, há no ar um espirito de vendeta, não uma típica vingança siciliana, explosiva, mas uma revanche fria, calculista e executada com paciência só comparável à da História Doutrinal dos Quarenta e Sete capitães, que o escritor Jorge Luís Borges tão bem descreveu.

E é assim mesmo, quando se ignora a prevenção, o caminho do bisturi, ou da espada, passa a ser o único. E caímos nele. Nossas vísceras éticas estão expostas e ganham os noticiários no mundo. E por quantas operações ainda teremos de passar? Aos nascidos neste século, não vou lhes importunar apontando governo A ou governo B como a provável pedra filosofal do mal. E tenham paciência com a minha falta de paciência, pois se a monarquia e a república velha mantiveram mais de 80 por cento da população no mais completo analfabetismo (**), não cobraremos imediatismos ou sonharemos que houvesse, naquelas épocas, o espírito de fiscalização e/ou acuidade lógica para se detectar deslizes e falcatruas. Mesmo que houvesse a maior das corrupções, ela seria invisível aos olhos dos plantonistas de então. Como tambem os “podres poderes” foram cautelosos ao atrasar as universidades e também a implantação de centros politécnicos em nosso país. E, antes de surgir algo como o SESI, era… O caos. Mas, mesmo lenta tal um carroça com rodas de madeira, a educação em nossa sociedade andou. E deu um salto com o professor  Anísio Teixeira. Aliás, ele, o educador, pode ser o elo faltante que liga esta atual caça à corrupção com a qualidade na educação… Infelizmente o mestre de nossos mestres morreu perseguido, provavelmente: torturado e  seu corpo jogado em um buraco de elevador– foi quase defenestrado da história. E, dói saber, o mestre Anísio ainda não ganhou uma reparação digna, e que chegue perto daquela outra, que os 47 capitães deram ao seu mestre Samurai; ofendido por um cortesão mal intencionado. A anistia e o combate à tortura ainda estão incompletos…

A Escola Parque virou moda em seus tempos, mas foi além da noção de liberdade dos gregos e possibilitou ao educando um completo acesso ao que de mais moderno havia pois, o que Anísio desejava era preparar jovens para o mundo industrial e para a vida contemporânea. Este era o seu objetivo. E foi, evidentemente, o mote de sua perseguição, o “erro” que o fez pagar com a própria vida. E em honra aos apelos por mais tecnologia e inovação, cabe recordar que os procedimentos deste educador continham muita coisa de outro educador,o norte americano Skiner, e se voltavam para o aprendizado na prática, no contato com a realidade; para que o estudante chegasse à percepção das grandezas físicas e do mundo real que o cercava. Enfim, algo traduzível, obviamente, em linguagem lógica. Mas, sempre existe um mas… E para os que sempre se julgaram donos do futuro, seria imperdoável treinar os menos abastados em raciocínio lógico. Depois do desaparecimento do educador, nos anos de chumbo ,foram separadas na academia, as disciplinas e apartadas em grupos de atividades cerebrais e, de atividades boas para manufaturas – e com o sumiço  do sábio educador,a vida seguiria seu rumo e  a desonra esteve bem perto de vencer…

Durante décadas se confinaram os métodos e sistemas de aprendizado daquela experiência piloto às denominadas escolas com conteúdo técnico. Assim, segundo os mandantes e demandantes, não haveria o risco de se contagiar o todo, e o máximo que um egresso destes educandários conseguiria seria galgar um emprego na indústria, ou ser professor nas próprias escolas técnicas. E em ambos os futuros estes profissionais seriam inofensivos para o oligárquico e persistente sistema de pilhagem dos cofres públicos. E sabem por quê? Porque a maioria dos fiscais, promotores e investigadores das contas públicas eram doutos em outras áreas nobres… Mas nunca dominaram a matemática e a complexidade lógica das perdas internacionais, ou nacionais. Porém quando surgiu a Constituição de 1988, e com ela a criação do Ministério Público, a capacidade de revidar, antes adormecida, despertou. Também começou a ter voz um ser político inexistente há décadas-  o Supremo Tribunal Federal e assim, após a entrada do terceiro milênio, a justiça começou a engatinhar. E para agravar o quadro (como a mão do mercado não consegue sossegar e ela tem por hábito distorcer planos, vingar os esquecidos, além de sucatear ideias e preceitos) pouco a pouco os empregos nas indústrias começaram a minguar e passou a se remunerar menos um técnico especializado do que os detentores de cargos do terceiro escalão da república. Como para se chegar a um destes cargos se exigia a previa aprovação em concurso público, o milagre se deu. Um grupo de jovens, egressos de escolas técnicas, ou centros de educação tecnológicos, percebeu que seria difícil ficar aguardando vagas na indústria, ou voltar a perceber salários vantajosos neste nicho, para onde foram preparados para deslanchar as suas carreiras. E então, não buscaram as convencionais escolas tecnológicas, ou de engenharia/arquitetura- mas optaram por cursar direito na graduação; e posteriormente as suas formaturas prestaram concursos. Assim chegaram lá, com forte arcabouço tecnológico, onde o sistema nunca quis que chegassem:- o coração de um ambiente antes restrito apenas aos profissionais com capacitação em ciências jurídicas.

Desde então este grupamento- talvez sem desejar – desejando – acabou por engendrar uma verdadeira faxina, que bem poderia significar a simbólica reparação ao Dr. Anísio- nosso senhor da Torre do conhecimento. Os seguidores de seus métodos, guindados aos cargos de acompanhadores da vida política- via concursos públicos – hoje potencializaram o circulo do estado de direito e lideram as investigações. Souberam se apossar, além da linguagem jurídica, da capacidade de elaborar gráficos e trocar informações globais via sistemas. E as espetaculares operações que acompanhamos todos os dias, nos noticiários, tem estes novos atores como protagonistas, atores que, graças uma mera distorção de mercado, assumiram uma épica campanha saneadora e estão colocando grandes empresários e políticos profissionais na cadeia.

O Mercado não possui mão para reverter esta distorção e resta, aos que se julgam prejudicados, começar a fazer: abaixo assinados e apelos nosso  parlamento; cobrando uma urgente reparação da Memória de Anísio Teixeira e a inclusão de seu nome no Panteão da Pátria. Quem sabe após esta tardia, mas merecida homenagem, os seus discípulos- mesmo sem conseguir chegar até o infame que matou ou mandou matar Dr. Anísio – se deem por satisfeitos e detenham sua campanha profilática. “Mas até lá, como “nunca antes na história desse país” se capacitou tanto um pelotão de caçadores de mandriões”. Estes disciplinados Analistas Simbólicos  (***)  irão, com o seus notebook ‘s contendo a cartilha de Skiner, continuar fazendo o que gostam e sabem fazer: – identificar, perseguir e prender corruptos. Sem sequer parar para perguntar: – se a tecnologia usada, como espada de Samurai, é boa ou má?

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