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Terremotos na Itália obrigam brasileiros a mudar a rotina da família

Família Corsini relata em reportagem especial a mudança na rotina da família após os fortes tremores na Itália

Por: Por Andressa Collet|em Roma
Fotos: Arquivo Pessoal Família Corsini

A série de terremotos que há duas semanas destruiu vilarejos na região central da Itália hoje se resume a tremores de menor intensidade. As consequências de maior magnitude, porém, são registradas na vida quotidiana de comunidades inteiras que precisaram evacuar cidades e que atualmente se veem destinadas a viver temporariamente em acampamentos improvisados, mas seguros. Uma rotina fora do normal compartilhada também por quem mora em lugares um pouco distantes, menos afetados materialmente, mas igualmente localizados em região sísmica, como é o caso, por exemplo, de uma família de brasileiros com duas crianças pequenas que mora em Rieti. A cidade fica a 48 quilômetros de Norcia, onde foi registrado o último grande terremoto de magnitude 6,6 graus na Escala Richter, o mais intenso dos últimos 35 anos no país.

A mãe de Valentina (7 anos) e Vittoria (18 meses), Andreia Corsini, conta que a filha mais velha devia ter voltado hoje à escola depois de mais de dez dias de aulas suspensas, o que não aconteceu. “Os pais não estão querendo mandar os filhos, pois acreditam que a escola não é um lugar seguro”, explica a brasileira que recebeu uma mensagem no grupo de mães do WhatsApp alertando sobre as atuais condições do edifício do colégio, suscetível a risco se viesse a sofrer um novo terremoto de magnitude semelhante ao de Norcia. As informações foram repassadas por uma representante do Comitê Escola Segura que havia participado de uma reunião com sismólogos no sábado, 5.

Família Corsini 3

“Pode ser que não aconteça nada, mas como é uma zona de risco, muito provavelmente os pais não irão deixar os filhos irem para escola até que não ajustem o edifício ou que coloquem as crianças estudar em outro lugar. A Valentina corre o risco de perder o ano ou de acabar as aulas só em julho, mas o mais importante no momento é a segurança dos alunos. A gente fica preocupado porque as escolas aqui já não são tão novas”, acrescentou Andreia que disse ainda ter conseguido finalmente dormir nos últimos dias, depois de tamanha tensão vivida com a série de terremotos entre 26 e 30 de outubro.

Os dois terremotos de 26 de outubro

Douglas Corsini, pai de Valentina e Vittoria, mora com a família em Rieti há 2 anos. Ele tem quinze anos de Itália, mas se transferiu para a cidade por motivo de trabalho. Douglas é atleta profissional de futsal e joga no time local, Real Rieti Calcio a 5. Foi justamente enquanto estava treinando que aconteceu o primeiro terremoto do dia 26, de magnitude 5,4 graus na escala Richter. “Estávamos todos parados ouvindo o treinador falar. De repente, eu senti como se tudo estivesse balançando, como quando a gente está numa rede, sabe? Foi aí que eu mesmo gritei ‘é terremoto, é terremoto’. Vários começaram a correr, e inclusive eu, para fora do ginásio. O nosso presidente tranquilizou e disse que o ginásio era seguro. O treino ficou parado uns 10 minutos, porque as pernas estavam bambas! Era olhar um para a cara do outro e todo mundo estava pálido. Já liguei para Andreia para ver se estava tudo bem”, contou Douglas. Em casa, a mãe das meninas logo foi arrumar uma sacola de emergência: “assim que aconteceu o primeiro terremoto, já fui arrumar tudo e deixei perto da porta. Separei mudas de roupa, tênis, remédios, biscoitos, água, documentos e carregador de celular”.

Depois do treino, já em casa e jantando, Douglas ligou para a mãe no Brasil através de um aplicativo com vídeo. “Bem na hora deu aquele segundo terremoto, que foi mais forte que o primeiro (5,9 graus na escala Richter). Acabei mostrando para ela meio ao vivo, sabe, mostrei que em casa tudo estava balançando, os lustres, as coisas em cima da pia. Foi um desespero lá do outro lado”, disse Douglas. A família chegou a ficar fora de casa por um tempo. “Depois disso a gente não dorme, fica com um olho aberto e outro também, você fica esperando que em qualquer momento vai dar um novo terremoto. Eu não desejo isso para ninguém. São sensações de impotência, de pensar que a gente não vale nada mesmo”, comentou Douglas, desolado.

Missa improvisada na praça

O terremoto mais forte, de magnitude 6,6 graus na escala Richter, foi registrado no dia 30 de outubro com epicentro em Norcia, a 48 quilômetros de Rieti. “A casa tremia e balançava ao mesmo tempo. Corremos todos para debaixo da mesa e esperamos parar. Colocamos uma roupa e saímos de casa porque a sensação era que o prédio vinha abaixo”, tentou descrever Douglas. O sismo não fez vítimas fatais, mais foi considerado o mais intenso a atingir o país desde 1980.IMG-20161101-WA0046

Era uma manhã de domingo e tradicionalmente dia de ir à missa para a Família Corsini. Douglas contou que, sempre pelo WhatsApp, receberam mensagem sobre uma ordem da Proteção Civil e do bispo de fechar todas as igrejas da diocese em virtude da série de tremores de grande intensidade. Pelo mesmo grupo de catequese da filha no celular também veio o aviso de que a missa da Paróquia de São João Bosco seria realizada do lado de fora, no mesmo horário, mas em espaço aberto, amplo e seguro. “O pessoal pegou os bancos de dentro da igreja e montou o altar na praça, em frente à igreja. Você imagina que tinha gente de pijama ainda, porque todo mundo tinha saído de casa correndo”, disse Douglas, que então finalizou:

“Sinceramente, precisamos continuar a vida. Meu trabalho é aqui, a nossa vida é aqui. Outro dia conversava com a minha mãe no Brasil e ela pedia para gente ir embora e eu disse que não é bem assim. Eu sou de Cambira, no Paraná. Outro dia vi que lá do lado da minha cidade uma criança que foi picada por uma cobra estava quase morrendo no hospital. Cada lugar tem seus problemas. O que aconteceu aqui é assustador, mas quando é da vontade de Deus é para ser. Nós vamos seguir a nossa vida normal, nos cuidando, é claro, esperando que não aconteça mais nada, mas com muita fé em Deus! E bola pra frente.”

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