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#Artigo – “Os algoritmos e o imponderável”

Escrito pelo Desembargador Breno Pereira da Costa Vasconcellos.

Por: Breno Pereira da Costa Vasconcellos

Os algoritmos e o imponderável

Surgido do abrupto pandêmico viral, o novo ciclo da humanidade conhece uma certeza: pouco do velho referencial voltará a se repetir quando a normalidade da vida comunitária for retomada. Hábitos do anterior trivial dia-a-dia, como proximidade e contato físicos, ausência de máscara facial e de assepsia às raias do TOC estão, por ora, severamente coibidos. Atividades profissionais antes incipientes tomaram um impulso imediato e exponencial, enquanto outras estagnaram, démodées, e mesmo correm o risco de desaparecer. Nada de novo no curso da história humana…

Neste redemoinho de antagonismos, porém, em todas atividades econômicas, novas ou antigas, há um ponto em comum, também historicamente comprovado: o ser humano precisará – de forma permanente – se reinventar, porque não há certezas. O novo vem sempre acompanhado do incerto.

No protegido das residências, a vida segue o curso dantes. Tradições familiares e culturais são preservadas e ensinadas, mirando a perpetuidade da segurança do conhecido.

A limitação espacial da cápsula do lar traz, ainda, o bônus da valorização do irretornável tempo existencial, aquele que se escoa como as águas de um rio. O humano introspectivo aflora no pensar, conversar, agir. E para reaver o sentido próprio de tempo. Autoconhecimento a ajudar o entendimento do novo e, por consequência, a manter a saúde mental do indivíduo.

Desenvolver a capacidade de apreender o que ocorre e do que pode, por aproximação, ser o porvir é saudável e faz parte do rol de qualidades básicas à nossa sobrevivência. Saber como agir para se proteger, cuidar do núcleo familiar e proteger a comunidade.

E conforto material e mental para enfrentar o incerto. Trabalhar (também o imaterial de ideias) é essencial para o bem-estar.

Com o conceito de previsibilidade da vida desconstruído e virado de ponta-cabeça, o mais certo é o incerto.

Teorias sobre caos pretendem explicar, grosso modo, uma ordem universal, passando por fórmulas matemáticas de repetição de padrões (algo além-imaginação para leigos), com interdisciplinariedade em outros ramos da matemática, como, por exemplo, as fractais, do polonês-francês Benoît Mandelbrot, expostas in Les Objets Fractals – Forme, hasards et dimension, ed. Flammarion, 4e. ed., 1995, France (Os Objetos Fractais – Forma, áleas e dimensão).

Voltando à Grécia Clássica, algoritmo é ‘processo de cálculo ou de resolução de um grupo de problemas’… e vem …Do lat. med. algorismus (e algorithmus, por influência do gr. arithmós ‘número’)… (cf. Antônio Geraldo da Cunha, in Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, 4.ed., 2010, pág. 26, grifos do autor). E é basicamente isso: um caminho ordenado, um iter, passo a passo, para solução de um problema.

Os gigantes corporativos transnacionais de reservatório e gerenciamento de dados baseiam-se na coleta de informações de acessos à internet para identificar consumo e hábitos diuturnos dos conectados na rede mundial e otimizar o exercício da manipulação do que instigar ao consumo e, genericamente mais perigoso, o que direcionar a pensar, tudo passando pelos algoritmos dos criadores de tendências. Exemplificativamente, além do consumismo direcionado, podem indicar o rumo de como aceitar limitações aos direitos humanos, de como aumentar a tolerabilidade à violência em qualquer forma, de incentivar e dar credibilidade a fake news, de impor sub-repticiamente conceitos racistas e/ou xenofóbicos etc.

Manipular e projetar formas de pensar é a materialização do Big Brother, imaginado por George Orwell em 1948 para o hipotético 1984. Isto é fato.

Todavia, a aparente infalibilidade dos algoritmos das grandes corporações, criados para direcionar tendências e dominar globalmente as massas do enxame digital (Homo digitalis, conceituação do filósofo Byung-Chul Han), é afrontada pela incerteza do não mensurável caos.

Adentra-se no imponderável. E é onde reina a esperança. Nada de certeza de resultados conduzidos, frente ao imprevisível de uma catástrofe global ou ações humanas pensadas.

O poder midiático é freado pelo randômico. Ou seja, a manipulação tem limite no imponderável da natureza, ora materializada em uma pandemia ainda incontrolável e passível de rebrotes. Do irrefreável e imprevisível humano, o ponto de inflexão passa pelo ler, conversar, discutir e gerar ideias para fugir da manipulação. É a luta contra a tirania. Como o mito de Prometeu, outra faceta do Homo sapiens sapiens.

O ápice da crise humanitária é o mote para a premente necessidade de ler e pensar, porque viver sem ler é perigoso; te obriga a crer no que te dizem (Joaquín Salvador Lavado Tejón, conhecido como Quino, cartunista argentino criador da Mafalda).

Apostemos na absoluta certeza do imponderável humano para a superação da crise. É a esperança.

 

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Quem é Breno Pereira da Costa Vasconcellos?

Consultor jurídico, inscrito na OAB/RS 15.642.
Atuou, desde os 25 anos, como Juiz de Direito nas Comarcas de Jaguarão, Mostardas, Seberi, Santo Ângelo, Viamão e Porto Alegre (na capital, atuou como titular na 16ª Vara da Fazenda Pública, 15ª Vara Cível, 1º Juizado e 7ª Vara Cível).
Trabalhou nos projetos de Conciliação Cível, Sentença-Zero, Falência e Concordatas, bem como de Família e Sucessões.
Em 1998, passou a atuar como juiz convocado na 2ª Câmara Especial do TJRS.
Promovido a Desembargador em 2001, ocupou o cargo até aposentar-se em 2016.
Com um senso de justiça inerente, exerceu a magistratura com muito zelo, respeito e seriedade. Seu nome é referência em celeridade processual e imparcialidade nas decisões. O cuidado, a dedicação e a honesta preocupação com cada caso são algumas das distinções que levam seu trabalho à impecabilidade.

Vasconcellos e Munhoz

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