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Marcelo Figueiró

Ameaça Profunda

Existe uma máxima no cinema que a água é inimiga dos produtores, mas amiga das bilheterias. Estou falando dá água, o nosso querido H2O, que compõe 70% do corpo humano. Ela é a responsável por esta dicotomia. A frase dialética existe porque quando se adiciona água do mar a uma produção, normalmente se triplica os custos do trabalho, devido a equipamentos especiais e efeitos visuais necessários para as filmagens.

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Encontro das Águas

Existem vários exemplos desta situação. Estes vão desde o primeiro cine-catástrofe da história, “O Destino do Posseidon” (1972). A ironia continua nos sucessos de James Cameron, O “Segredo do Abismo” (1989) e “Titanic” (1997), avançando para o cine pipoca “Do Fundo do Mar” (1999) e chega ao recente filme de super-herói da DC, “Aquaman” (2019). Numa mistura de quase todos estes longas surge uma nova aventura que vem aterrorizando os sete mares. Estou falando de “Ameaça Profunda”, thriller que traz Kirsten Stewart tentando escapar de uma base submarina, enquanto enfrenta criaturas desconhecidas e as dificuldades impostas pelo ambiente.

Mergulhando Fundo

Em Ameaça Profunda, uma megacorporação instala a maior broca de captação de mineral, do mundo, na Fossa das Marianas. O aparelho fica a mais de dez quilômetros da superfície e está envolto por uma grande estação submarina. No início da trama, a engenheira mecânica Nora Price está acordada de madrugada, quando uma das paredes da base irrompe devido a pressão externa da água. Logo toneladas de água invadem os corredores da estação. Para a engenheira só resta correr desesperadamente até um ponto de escape. Lá ela descobre que a estação foi quase toda destruída. Pior, A rota de fuga para a superfície, que está vários andares acima, foi bloqueada. A única saída é descer próximo ao solo submarino, onde está localizada a broca gigantesca.
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Sons submarinos

Nora encontra outros sobreviventes e passa a encarar frestas minúsculas e locais de difícil acesso para descer até a base da plataforma. Se isso já não bastasse, os sobreviventes vão escutando sons estranhos que os acompanham na descida da base. Surge então uma pequena criatura agressiva que ataca o grupo. Será aquele pequeno animal o único de sua espécie¿ Poderiam existir seres maiores, naquela profundidade do oceano¿ Teriam sido estas criaturas responsáveis pelo desastre na broca¿ Por último, como sobreviver a catástrofe na estação e animais tão violentos, estando completamente fora do habitat do ser humano¿ Estas são as perguntas que Nora terá que responder para sobreviver a onze quilômetros de profundidade, no ambiente mais hostil que a terra apresenta.
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Refletido no Oceano

Ameaça Profunda é um filme de ação razoável, como outros que inundam o cinema. O interessante é que a obra é composta com inspiração em quase todos os filmes que citamos. Claramente a destruição da estação se baseia em O Destino do Posseidon e Titanic, com os protagonistas tendo que enfrentar um desafio após outro. O segredo do Abismo é lembrado, por tratar-se de um filme em uma estação submarina em águas profundas. A obra de Cameron também é parecida, pois ambos trazem criaturas marinhas não catalogadas. Já a fuga dos monstros lembra muito o escape dos tubarões inteligentes, de Do Fundo do Mar. Certamente, o que mais inspirou o filme foi a fita de super-herói Aquaman. Esta apresentou seres abissais, que viveriam na mesma Fossa das Marianas. A Warner deseja realizar uma película especificamente sobre estes seres, mas Abismo Profundo se antecipou a ideia e entregou um filme sobre esta violenta raça subaquática antes.
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Olhar Mareado

Tirando as referências, o filme encontra sua fraqueza na parte técnica. Tanto Titanic, como o Segredo do Abismo, Aquaman e até Posseidon utilizavam-se de ângulos abertos para o espectador entender claramente onde estavam os personagens e o que estava acontecendo. Entedia-se claramente a ação e o que os fugitivos estavam fazendo para sobreviver. Já em Ameaça Profunda a maior parte das filmagens é apenas do rosto dos atores durante a ação, num close fechado. Quando estes atravessam um espaço apertado, sente-se a aflição, mas não é possível perceber adequadamente a densidade do problema.
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Vampiros e água corrente

O cenário, embora bem elaborado pelo CGI, perde muito devido a escuridão utilizada para esconder as criaturas. Pode ser assim no fundo do mar, mas uma criatividade artística teria sido bem mais interessante. A própria protagonista deixa a desejar. Embora seja legal assistir a Bella da Saga Crepúsculo (2008), imitando a Ripley de Alien (1978), o papel é muito pesado para a atriz. Ela se esforça, até não vai mal, mas insiste em manter as mesmas caras e bocas de quando era vampira.

O Equilibrio da Marés

A melhor parte de Ameaça Profunda é que certamente o filme não custou nem perto dos outros filmes citados. Mesmo assim consegue um resultado divertido. Espero que faça uma boa bilheteria, não pela profundidade do enredo, mas porque Kirsten merece ter uma vida mais longínqua no cinema. A Bella está no início da carreira, e mesmo com algumas dificuldades apresentadas merece a chance de avançar no mundo do cinema. Que Ameaça Profunda seja o equilíbrio entre gastos e bilheteria e permita ser uma bussola para que filmes em mares nunca dantes navegados possam mergulhar fundo no enredo, sem jamais afundar.

Trailer

https://youtu.be/KgvE1kGxXBQ

Elenco, Citações e Referências

Norah Price – Kristen Stewart, Crepúsculo, 2008

Capitão Lucien – Vincent Cassel, Cisne Negro, 2010

Emily Haversham – Jessica Henwick, Defensores, 2017

Liam Smith – John Gallagher Jr.,   Rua Cloverfield – 10, 2016

Rodrigo Nagenda – Mamoudou Athie, O Favorito, 2018

Paul Abel – T.J. Miller, Deadpool, 2016

Lee Miller – Gunner Wright, Love, 2011

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