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Helena Confortin

Opinião

Base Nacional Comum Curricular – o que muda?

O Ministério da Educação divulgou, no dia 06 de abril 2017, a última versão do documento “Base Nacional Comum Curricular” (BNCC), através do qual as mais de 190 mil escolas brasileiras do ensino fundamental (públicas e particulares), deverão nortear seu roteiro acadêmico a partir de 2019.  O documento deverá, ainda, ser apreciado pelo Conselho Nacional de Educação e, após, ser homologado pelo MEC, o que deve acontecer ainda neste ano. Como recebeu parecer favorável de mais de 90% dos professores, segundo pesquisa, é certo que seja aceito e implantado no tempo previsto.

Numa época em que dizemos ser o mundo “plano”, isto é, época da comunicação online em que um fato acontece e, imediatamente, é conhecido por todos através dos meios de comunicação e redes sociais, padronizar o currículo para todo o país é, no mínimo, coerente e necessário. Vivemos uma realidade em que crianças e jovens desenvolvem uma inteligência mais imagética, vivem o momento do imediatismo, da ideia lúdica e prazerosa da vida, época em que o jovem almeja algo, vai e faz e, sonho realizado, é sonho superado. Não fica muito tempo “curtindo” a conquista: vai em busca de novos desafios sejam na área pessoal, sejam na profissional. Portanto, hora de, urgentemente, rever e adequar nossa escola.

Destaque-se que em países de todo o mundo, onde o ensino é de qualidade e as pesquisas mostram resultados positivos, os currículos são únicos e seguem padrões internacionais. Seguem tendências que a vida moderna exige, dentre as quais a concisão – o que elimina o ensino enciclopédico e busca a densidade de conteúdos – e as inteligências emocional e múltiplas, desenvolvendo habilidades socioemocionais, raciocínio lógico, capacidade de resolver problemas (conceito moderno de inteligência), capacidade de argumentação, dentre outras. Inteligência não é mais somente medida por testes do coeficiência: deve ser utilizada como instrumento de mudança de comportamento.

Tudo isto vem sendo discutido já há bastante tempo nas nossas escolas de formação de docentes. Portanto, sabemos o que podemos e devemos fazer, ao menos na teoria, o que já é um bom começo para iniciarmos uma nova era na educação brasileira.

O que muda com a nova proposta?  A BNCC centra-se no tripé – meta – livro didático – atuação do professor. Quanto à meta, a base define o que ensinar, em cada ano do ensino fundamental, matéria por matéria. Esta definição, além de dar mais segurança aos professores que terão um norte e um objetivo final, ajudará professores e pais a acompanhar e verificar o crescimento no processo de aprendizagem. O ensino passará a ser mensurável e cobrado. Atingiu uma meta, passa para a seguinte.

Um segundo item do tripé é o livro didático que deverá ter a sequência dos conteúdos propostos. A aprendizagem será mais uniforme, lógica e fundamentada. “O encadeamento lógico das matérias, que vão subindo de dificuldades de forma organizada, é o motor de um bom currículo e é isto que a base propõe” diz a pesquisadora Ilona Becskeházy.

Um terceiro, e talvez mais importante item do tripé, é o professor que passará a ser o agente condutor do processo. Caberá a ele, com orientações da BNCC – que determina o que ensinar, mas não como o conteúdo deve ser transmitido – criar sua forma de agir, como transmitir o conteúdo ao seu aluno que deverá ser mais ativo e participativo. Cada escola ou rede escolar tem a liberdade de seguir os objetivos nacionais à sua maneira, atendendo suas especificidades regionais e escolhendo os métodos de ensino que melhor se adéquem a cada realidade. Ele, o docente, será o grande operador e mediador do processo. A proposta ajudará o professor a saber o que é esperado dele e o que ele tem de entregar no final do ano letivo.

A nova proposta apresenta 6 (seis) tópicos especiais, assim resumidos: a) o processo de Alfabetização deverá ser completado até o 2 ano, quando a criança tem, em média, 7 ou 8 anos, maturidade intelectual ideal para aprender a ler e escrever/ processo de letramento; b) na Língua Portuguesa, a ênfase maior será no estímulo à oralidade e à escrita, já nos primeiros anos. O aluno deverá aprender a interpretar textos, distinguir fatos de opiniões, construir e avaliar a consistência argumentativa nos textos que produz; c) na Matemática, o foco maior será na resolução e no entendimento de problemas. Serão trabalhados conceitos de estatística e probabilidade do primeiro  ao nono ano escolar; d) o ensino da Língua Inglesa será obrigatório em todo o ensino fundamental e qualquer outra língua será opcional; e) na História, segue-se a ordem cronológica mundial, destacando fatos essenciais e como tais fatos ajudaram a moldar o Brasil; g) em  Ciências, foram incorporados exemplos práticos e próximos da realidade como questões ligadas à saúde, ao ensino da atmosfera ligado a discussões sobre mudanças climáticas, economia de energia, etc.

Esperamos, sinceramente, que a futura lei da BNCC seja uma realidade que consiga alçar o Brasil a um dos primeiros lugares na qualidade de ensino do mundo. É um sonho que pode vir a ser realidade se todos nos empenharmos para isto. Concluo com Lya Luft quando diz: “Acredito, de maneira quase feroz, na necessidade de despertar, não só entre os responsáveis, mas no povo em geral, a noção clara de que na educação devemos buscar excelência, o que não tem a ver com elitismo – todos temos direito ao melhor, que não significa dinheiro. Que a escola possa dar o melhor ambiente, com os melhores professores, para que os alunos possam também descobrir, e cultivar, o melhor de si”.

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