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Felipe Fogolari

CARACTERÍSTICAS DA PERSONALIDADE SADIA EM MASLOW

No presente artigo pretendo invocar alguns ensinamentos do reconhecido psicólogo estadunidense Abraham H. Maslow, que no livro Introdução à Psicologia do Ser (Rio de Janeiro: Livraria Eldorado Tijuca, s/d), relaciona algumas características da personalidade sadia do ser humano, que são as seguintes: 1) uma percepção mais clara e mais eficiente da realidade; 2) mais abertura à experiência; 3) maior integração, totalidade e unidade da pessoa; 4) maior espontaneidade, expressividade; pleno funcionamento; vivacidade; 5) um eu real; uma firme identidade; autonomia, unicidade; 6) maior objetividade, desprendimento, transcendência do eu; 7) recuperação da criatividade; 8) capacidade para fundir o concreto com o abstrato; 9) estrutura democrática de caráter; 10) capacidade de amar, etc (p. 189).

Essas características estão presentes nas pessoas que têm um compromisso sincero com o desenvolvimento de suas potencialidades, o que Maslow chama de auto-atualização ou auto-realização. Essa meta está em conformidade com a orientação de algumas religiões, a saber: “a transcendência do eu, e sua fusão com o verdadeiro, o bom e o belo, a busca pela sabedoria, a renúncia de desejos ‘inferiores’ em favor dos ‘superiores’, maior amizade e gentileza” (MEDEIROS, Alexsandro M. Introdução à Psicologia do Ser de Abraham Maslow. In:  http://www.portalconscienciapolitica.com.br/products/introducao-a-psicologia-do-ser/).

Considerando que o normal é o desenvolvimento das capacidades, e não a acomodação numa condição inferior, Maslow assevera que “a doença geral da personalidade é definida como qualquer condição em que a pessoa fica aquém do seu pleno desenvolvimento, ou individuação, ou plena realização da sua humanidade” (s/d, p. 228). E não é preciso ter a genialidade de Maslow para saber, sem pecar por ingenuidade, que um dos grandes males da humanidade é o desamor generalizado, em prol da idolatria de bens materiais. Por ser algo contrário à humanidade, a falta de amor traz sérias consequências. “Toda experiência personológica e psicoterapêutica é testemunha deste fato: o amor realiza e o não-amor frustra” (MASLOW, s/d, p. 128).

A cultura de uma época pode ter implicações graves no projeto de auto-atualização ou auto-realização das pessoas, pois em tempos de amor líquido[1], é doloroso saber que “uma potencialidade dada a todos ou à maioria dos seres humanos no nascimento, a qual, com freqüência, se perde, ou é enterrada, ou inibida, quando a pessoa é enculturada” (MASLOW, s/d, p. 171).

O fato é que Maslow acredita de forma inequívoca que o homem caminha em direção à auto-atualização/auto-realização. No entanto, sabe de antemão “que a tendência para evoluir no sentido da plenitude humana e da saúde não é a única tendência que se encontra no ser humano […] podemos também encontrar nessa mesma pessoa desejos de morte, tendência para o medo, a defesa e a regressão, etc.” (s/d, p. 188).

Isso significa que o natural caminho evolutivo pode deixar de ser trilhado, pois nos descaminhos da vida “Também temos de encarar frontalmente o problema do que se levanta no caminho do desenvolvimento, quer dizer, o problema de cessação de crescimento e evasão de crescimento, de fixação, regressão e conduta defensiva” (MASLOW, s/d, p. 196).

Assim sendo, é correto afirmar que o homem deve depositar a maior confiança no seu potencial, mas sem olvidar que existe a possibilidade inversa, pois os costumes e a cultura podem inibir o desenvolvimento e até podem ocasionar uma conduta regressiva. “Há dois conjuntos de forças puxando o indivíduo, não um apenas. Além das pressões no sentido do desenvolvimento e da saúde, existem também pressões regressivas, geradas pelo medo e ansiedade, que o empurram para a doença e a fraqueza” (MASLOW, s/d, p. 197).

Todavia, não se pode perder de vista que as frustrações experimentadas devem contribuir positivamente para a compreensão e consolidação do processo de individuação. “Somente por uma completa apreciação dessa dialética entre doença e saúde poderemos contribuir para que a balança penda a favor da saúde” (MASLOW, s/d, p. 199).

Em suma, as escolhas realizadas pelas pessoas sadias são decisivas para o seu progresso pessoal, sendo que o bem-estar das demais pessoas também é ponderado nesse processo de escolha. Considerando a pertinência e a importância dessa lição de Maslow, no próximo artigo pretendo cotejar as características da personalidade sadia, ao início citadas, com a postura de radicalismo manifestada nas redes sociais, para apurar se subsiste algum resquício de normalidade nessas manifestações maniqueístas (visão simplista de bem vs. mal, sendo que o mal está sempre encarnado no oponente).

[1] Expressão que dá título a uma das obras de Zygmunt Bauman, que significa o oposto de amor sólido, ou seja, uma relação superficial que não considera a outra pessoa com fim em si mesma, mas como mero instrumento de satisfação de desejos imediatos e, por esse motivo, é uma relação breve.

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