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Marcelo Figueiró

Jojo Rabbit

A primeira vez que tive conhecimento da existência do diretor Taika Waititi, foi quando ele aceitou uma ponta, como ator, no horroroso filme do “Lanterna Verde” (2011). Depois soube que havia lançado um falso documentário sobre vampiros, “O que Fazemos nas Sombras” (2014). Aqui apresentava-se como diretor, produtor, roteirista e ator. Com pouca experiência e com assinatura muito voltada para a comédia, foi um espanto quando este neozelandês foi escolhido pela Marvel para dirigir o terceiro filme do Thor, suntuosamente chamado de Ragnarok (2017). Aliviar um pouco a postura do marrento deus do trovão deu certo e a obra foi um sucesso. Mesmo assim parecia inverossímil que ele conseguisse fazer um filme sobre nazistas. Taika não só o fez, como a comédia “Jojo Rabbit” é fantástica. Por este motivo está concorrendo ao prêmio da Academia de Cinema de Los Angeles, disputando seis óscares, incluindo o melhor filme.

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Heil Rabit

Jojo Rabit conta a história do garoto Jojo, que dá nome ao filme. Jojo vive na Alemanha nazista, nos últimos dias da segunda guerra mundial. O menino, de dez anos, é um fascista completo. Ele tem como desejo mais profundo integrar a juventude hitlerista e posteriormente a guarda pessoal do führer. A fascinação de Jojo pelo nazismo é tanta que ele tem como amigo imaginário o próprio Hitler, que lhe dá conselhos e orienta como agir. Claro que, embora a figura seja do genocida, as ideias são pertencentes as de um garoto de dez anos, com uma imaginação muito fértil.

Encontrando o Inimigo

No início do filme, Jojo sofre um acidente em um acampamento da Juventude Hitlerista. Isto o obriga a ficar longos períodos em casa. Devido ao tédio, o garoto fiscaliza cada ponta da residência, até que encontra uma pequena abertura no quarto de sua falecida irmã. O desnível é na verdade um espaço secreto que abriga uma menina judia, escondida pela mãe de Jojo. Inicialmente o garoto pensa em denunciá-la, mas isto colocaria sua mãe em problemas. Então resolve interrogar a garota por vários dias, para escrever um guia que facilite a identificação dos judeus pelos nazistas.

Davi e Golias

A grande dificuldade para fazer o relatório é que a moça é bem maior que ele. Elsa fornece apenas as informações que deseja. Ela prega que judeus são seres superpoderosos, com poderes mentais, superforça e outros atributos, apavorando o menino. Jojo não tem como definir se o que está escutando é verdade, devido a sua parca experiência com judeus e até mesmo com a própria vida. Conseguirá o garoto desvendar o inimigo, ou se apaixonará por ele?

Construindo a empatia

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“Jojo Rabbit” é daqueles filmes que no início você não tem muita empatia. Mas ao perceber como funciona a dinâmica de Jojo, o Hitler imaginário, a mãe e a fugitiva, você vai se encantando com a história. Logo percebe-se que o longa é uma verdadeira pintura. A convivência do garoto com a judia, e a sua transformação a partir disto é realmente emocionante. É mais uma história que comprova que não existem raças superiores e inferiores, apenas ignorância sobre a vida e as dificuldades de nossos vizinhos, irmãos e inimigos.

Os melhores professores

(From L-R): Sam Rockwell, Scarlett Johansson and Roman Griffin Davis in the film JOJO RABBIT. Photo by Larry Horricks. © 2019 Twentieth Century Fox Film Corporation All Rights Reserved

(From L-R): Sam Rockwell, Scarlett Johansson and Roman Griffin Davis in the film JOJO RABBIT. Photo by Larry Horricks. © 2019 Twentieth Century Fox Film Corporation All Rights Reserved

A fita lembra filmes como “A Vida é Bela” (1997), “O Menino do Pijama Listrado” (2008), ou “A Menina que Roubava Livros” (2013). Todas estas obras de ficção tratam de crianças frente a barbárie da guerra. Os pequenos não entendem o que leva adultos aquele absurdo. Talvez “A vida é Bela” seja a obra que mereça uma comparação mais aprofundada com “Jojo Rabbit”. Naquele filme se apresenta um garoto judeu, instigado pelo pai a ver o absurdo de um campo nazista de outra forma. Ao contrário disto, em “Jojo Rabbit” o menino é hitlerista, mas incitado, por uma legitima sobrevivente, a entender que as diferenciações impostas não fazem sentido. O certo é que as crianças não deveriam ser ensinadas a odiar ninguém e os adultos deveriam tentar extinguir sentimentos obscuros de sua alma.

Rindo da Batalha

A mensagem do longa é tão divertida e emocionante que você até percebe que contém um ótimo trabalho visual, mas diante das descobertas de Jojo, pouco importa o figurino e o cenário. De qualquer forma é interessante as brincadeiras que Taika realiza com o pesado momento em que os alemães atravessam, no limiar de sua derrota para os aliados. Uma das cenas mais engraçadas é quando dois oficiais, percebendo que não existe mais como vencer a batalha resolvem gastar seu tempo adicionando alegorias aos uniformes da tropa. Vale a pena assistir também para dar algumas risadas.
Jojo Rabbit (5)
Uma ótima lição

“Jojo Rabbit” é um filme para ser visto, apreciado e, principalmente, refletido. É uma obra-prima do brincalhão Taika Waititi que transformou algo triste e mortal, como o nazismo, em uma lição de amor e humanidade. Talvez o ex-secretário nacional da cultura, de nosso país, devesse receber como castigo escreverem mil redações sobre este filme (e os outros citados acima). Isto para aprender a não venerar em rede nacional algo que foi extremamente nocivo a história de nosso planeta como o nazismo. As crianças, em sua mais tenra idade, são o melhor exemplo de como deveríamos tratar estes períodos e nossa convivência com  os diferentes. Nos espelhemos nelas e em filmes como “Jojo Rabbit” para construir um mundo melhor e uma sociedade mais justa, fraterna e igualitária.

Trailers

https://youtu.be/-IBaMJ15Fm0

https://youtu.be/HxI8P19IYdY

Elenco, Citações e Referências

Jojo – Roman Griffin Davis

Elsa – Thomasin McKenzie

Rosie Betzler – Scarlett Johansson

Adolf Hitler – Taika Waititi

Capitão Klenz Endorf -Sam Rockwell

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