O Rei Leão
Disney usa Shakespeare, animais e nostalgia para gerar novo sucesso
Fui vencido. Há quatro semanas estou adiando assistir o novo sucesso da
Disney: O Rei Leão. Este já foi desenho-animado e agora volta aos
cinemas no formato live-action. Como o lançamento aconteceu faz algum
tempo, esperava encontrar a sala de projeção vazia, principalmente para
uma sessão fria de inverno, às 21h. Ledo engano, o cinema estava lotado
com crianças pequenas e até coroas, como eu. Mas o que faz este filme
sobre bichos africanos gerar tanto envolvimento de diferentes faixas
etárias. É isto que vamos tentar descobrir.
Nasce o Rei
O desenho animado Rei Leão foi lançado em 1994. Ele é considerado um dos
marcos do renascimento dos desenhos da Disney, junto com a Bela e a Fera
(1991), o Corcunda de Notre Dame (1996), Hércules (1997), Mulan (1998),
e outros tantos. O filme foi um dos primeiros a utilizar a informática
em sua edição. Embora os desenhos tenham sido feitos a mão, o computador
servia para reunir vários elementos com movimentos diferentes. Com a
técnica um estouro de manada ou uma reunião de muitos animais parecia
inacreditavelmente realista. O esforço valeu a pena. O filme foi a maior
bilheteria daquele ano. Com seus U$ 987 mil obtidos, sustentou a segunda
maior arrecadação mundial do cinema até a virada do milénio.
Eis a questão…
O enredo de Rei Leão é levemente baseado em Hamlet de Shakespeare. Nele
o Leão Mufasa apresenta seu primogênito recém-nascido, Simba, aos
animais do reino. Mufasa é um rei bondoso que impede o excesso da caça
em sua área. Ele também limita a invasão das insaciáveis hienas no
território. O irmão do rei, Scar, não concorda com o governo de Mufasa.
Ele acredita que deveria ter sido o Rei. O vilão defende que os animais
carnívoros deveriam ter liberdade para caçarem suas presas sempre que
desejarem.
Cicatrizes de Batalha
Scar fica mais contrariado ainda com o nascimento de Simba. Agora o
leãozinho é o próximo na linha de sucessão. Com a ajuda das hienas, Scar
acaba levando Simba a se aventurar em um lugar proibido. Lá o filhote e
seu pai acabam sofrendo uma armadilha. Mufasa é morto e Simba foge da
região, para que os outros animais não descubram que ele foi
indiretamente responsável pela morte do pai.
O Bom filho a casa torna
Enquanto o reino passa a ser comandado por Scar e as Hienas, Simba
encontra refúgio em outra localidade, com o Javali Pumba e o Suricato
Timão. Com eles o leão aprende que deve se deixar os problemas para trás
e seguir em frente. Hakuna Matata é a expressão que resume esta ideia.
No entanto uma amiga de Simba, Nala, foge de Scar, encontra Simba, e
suplica que o jovem leão volte para seu reino. Tudo para enfrentar o tio
e devolver a paz aos animais. Agora Simba terá de decidir se encarra seu
passado e corrige seus erros confrontando Scar e as Hienas, ou segue a
boa vida com seus novos amigos.
Siameses
A história do desenho e do live action é praticamente a mesma, diferente
do que a Disney tem feito com outras obras transformadas em carne e
osso, como Dumbo (2019) e Aladim (2019). O filme é feito em uma
computação gráfica perfeita, utilizando poucas imagens reais, conforme
explica o diretor Jon Favreau (Homem de Ferro, 2008). De qualquer forma
os animais são de um realismo impressionante. Mesmo assim, a situação
que é o maior trunfo do filme também é seu maior problema. Os bichos são
perfeitos, mas isto dificulta que expressem emoções quando falam. Os
cenários digitais também são impressionantes. Por fim o filme oferece
ensinamentos ancestrais para explicar o ciclo da vida e outras
filosofias. Apenas pelas explicações de Mufasa para Simba já vale pagar
o ingresso.
A receita das Selvas
Rei Leão é uma tempestade perfeita para gerar uma grande bilheteria. A
Disney pegou um texto de Shakespeare e transformou em uma história de
bichinhos. Esta produziu a maior bilheteria a sua época. Vinte e cinco
anos depois, pegou a história do desenho animado e transformou em um
filme com animais “reais”. Ou seja, utilizou como base um texto do maior
escritor da história humana, misturou com personagens fofinhos, e
décadas mais tarde repetiu a fórmula, utilizando uma nova tecnologia
(que gerou a curiosidade) e abusando da nostalgia que as pessoas tinham
com Rei Leão original. Era impossível dar errado e não deu. O filme já
está entre as dez maiores bilheterias mundiais com mais de U$ 1450
milhões arrecadados e subindo.
O Rato Rugindo
Na verdade, foi utilizada uma estratégia de marketing completa para
arrancar nosso suado dinheirinho. Sinceramente, eu não me importo. Se a
Disney continuar nos fornecendo filmes divertidos pode usar todos os
estudos sobre nossos interesses que quiser. Isto desde que nos entregue
obras divertidas, que valham as duas horas no cinema. Sendo desta forma,
não tenho problemas em ver o Estúdio do Mickey transformar seu ratinho
em Rei da Selva. Que seus filmes consigam rugir frente a concorrência e
finquem suas garras nas bilheterias, exatamente como fez o grandioso Rei
Leão. Afinal, Hakuna Matata é o que vale mesmo.
Trailers
Elenco, Citações e Referências
Simba – Donald Glover – Han Solo: Uma História Star Wars, 2018
Nala – Beyoncé Knowles, Obsessiva, 2009
Mufasa – James Earl Jones – Rogue One: Uma História Star Wars, 2016
Scar – Chiwetel Ejiofor, 12 Anos de Escravidão, 2013
Timão – Billy Eichner, American Horror Story, 2011 – 2019
Pumba – Seth Rogen, Casal Improvável, 2019